Infeções Sexualmente Transmissíveis: Quais as principais DST's e causas?
As Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são um conjunto de infeções e de síndromes clínicas causadas por agentes patogénicos que podem ser adquiridos ou transmitidos de pessoa a pessoa principalmente através das relações sexuais (sobretudo vaginais, orais ou anais). De notar, no entanto, que alguns agentes patogénicos também podem ser adquiridos por outras vias (como partilha de seringas contaminadas ou picada acidental e ainda durante o parto, de mãe para filho (transmissão vertical)).
Mais de 30 espécies de agentes patogénicos (vírus, bactérias, fungos e parasitas) podem ocasionar IST, sendo, epidemiologicamente, a via sexual a principal via de transmissão.
As ISTs são consideradas Doenças de Declaração Obrigatória.
A Organização Mundial de Saúde alerta que estas IST “têm um impacto profundo na saúde de adultos e crianças em todo o mundo” e que se não forem tratados, podem ter consequências graves e crónicas, nomeadamente:
- doenças neurológicas
- doenças cardiovasculares
- impacto negativo na saúde sexual e reprodutiva ( infertilidade; gravidez ectópica
- nados-mortos; transmissão materno-infantil
- aumento do risco de alguns cancros
De acordo com a OMS (relatório de Junho/2019), todos os dias se registam mais de 1 milhão de novos casos de IST curáveis nas pessoas entre os 15 e os 49 anos.
Desde 2007 temos assistido a um aumento muito importante na sua incidência. Algumas são as causas para este aumento, nomeadamente:
- Início precoce das relações sexuais
- Múltiplos parceiros sexuais
- A não utilização de preservativo
- A população jovem apenas conhece o VIH/Sida como IST
- Perda da percepção de risco
- Desconhecimento de que algumas práticas sexuais, como o sexo oral, apresentam risco de transmissão de IST
Quais os principais sintomas das IST's?
Habitualmente as infecções sexualmente transmissíveis não dão queixas durante meses ou mesmo anos, e as pessoas ignoram que estão infectadas e sentem-se saudáveis. Mas podem transmitir aos/às seus/suas parceiros/as sexuais.
Quando há sintomas, estes podem aparecer logo após o contacto sexual, ou levar semanas a meses a surgir. Por vezes os sintomas desaparecem mesmo sem qualquer tratamento, mas a infecção permanece no organismo (não há cura).
Embora variando com o tipo de infecção em causa, de uma forma geral, os sinais/sintomas habitualmente descritos pelo doente com uma IST são:
- Corrimento anormal da vagina, pénis ou ânus, (frequentemente com mau cheiro nas mulheres);
- Ardor ou dor ao urinar;
- Feridas, bolhas ou outras lesões (úlceras e/ou verrugas) na área genital e/ou anal;
- Comichão ou irritação na área genital;
- Dor abdominal;
- Dor ou sensação de queimadura ao urinar;
- Sensação de dor ou queimadura durante as relações sexuais
Infeções Sexualmente Transmissíveis mais frequentes
A Gonorreia é uma infecção causada por uma bactéria (Neisseria gonorrhoeae) que pode afetar o pénis, a vagina, o colo do útero, a uretra, o ânus ou a garganta. A sua via de transmissão principal é a sexual, através do contacto com uma pessoa infectada, mas pode ser também transmitida de mãe para filho durante o parto.
Esta infecção tem cura com o tratamento adequado com antibióticos. Ao longo dos tempos tem-se observado um aumento da resistência à terapêutica.
A Clamídia (Chlamydia trachomatis) é uma infeção bacteriana que pode afetar o pénis, a vagina, o colo do útero, o ânus, a uretra, a garganta ou os olhos. A infeção transmite-se por via sexual e também de mãe para filho (via vertical).
É a IST bacteriana mais frequente. Afeta, sobretudo, as faixas etárias mais jovens, predominantemente mulheres com ≤ 24 anos. Tem cura.
A Sífilis ( Treponema pallidum) é uma doença multivariada quer na apresentação quer no curso da própria doença.
O curso da doença, quando não tratada, é variável podendo evoluir para a sífilis terciária após 10 anos da primeira lesão e após um período de latência.
A sífilis primária, habitualmente apresenta-se, com nódulo único e indolor e adenopatias associadas (gânglios linfáticos aumentados). Tem resolução espontânea habitualmente entre 4-6 semanas. 25% destes evoluem para sífilis secundária caracterizada por sintomas e sinais muito diversos e inespecíficos, sendo considerada a “grande imitadora”. Pode
apresentar-se com alterações cutâneas, febre, dores de cabeça, mal-estar geral, anorexia e até, mesmo, como meningite aguda.
A sífilis terciária pode manifestar-se como neurossífilis, sendo esta uma causa de demência. É desta forma, de extrema importância o tratamento da sífilis primária de forma a prevenir a evolução da doença. O/A parceiro/a devem também ser tratados.
A Tricomoníase, provocada pelo Trichomonas vaginalis, é habitualmente assintomática.
Na mulher, pode variar de ausência total de sintomas para Doença Inflamatória Pélvica. Quando apresenta sintomas, são na sua maioria dor ao urinar ( disúria), dor nas relações sexuais (dispareunia), perdas de sangue vaginal após coito, dores abdominais ou
apresentam secreções vaginais amarelo-esverdeadas, abundantes, espumosas, com odor fétido.
O Vírus da Imunodeficiência humana (VIH) ataca e destrói o sistema imunitário do nosso organismo, isto é, destrói os mecanismos de defesa que nos protegem de doenças. As pessoas que estão infectadas com VIH são seropositivas, e podem ou não desenvolver SIDA.
A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é um conjunto de sinais e de sintomas que aparecem pela deficiência do sistema imunitário, que vai ficando com menos capacidade de resposta ao longo da evolução da doença.
Importa realçar que estar infetado com VIH não é o mesmo que ter SIDA. Inicialmente a pessoa infectada com VIH não tem sintomas. Após contrair a infeção podem existir sintomas semelhantes à gripe. Posteriormente, os sintomas tornam-se mais graves, tais como:
- perda rápida de peso
- infeções graves
- pneumonia
- diarreia prolongada
- lesões na boca, ânus ou genitais
- perda de memória
- depressão
- outros distúrbios neurológicos
Existem vários locais onde se pode testar, como:
- no seu centro de saúde com uma requisição médica
- num Centro de Aconselhamento e Deteção Precoce do VIH (CAD)
- numa organização não-governamental ou organização de base comunitária
- numa farmácia ou num laboratório de patologia clínica/análises clínicas
O VIH tem tratamento que controla a infecção, impede a evolução para formas graves da doença (SIDA) e diminui a transmissão aos/às parceiros/as, mas não tem cura. Os medicamentos antirretrovirais impedem a multiplicação do vírus, o que reduz a quantidade da carga viral no organismo. Ter uma carga viral baixa ou suprimida permite ao sistema imunológico uma oportunidade para se recuperar. Existem, atualmente, evidências de que uma pessoa que faz o tratamento antirretroviral e que tenha uma carga viral suprimida não
transmite o vírus aos parceiros sexuais.
Já ouviu falar de PrEP?
PrEP significa profilaxia pré-exposição a um microrganismo.
Profilaxia significa prevenção da infeção, neste caso do VIH. O termo pré-exposição indica que a prevenção é feita antes da ocorrência de um comportamento de risco.
É utilizada por pessoas que não estão infectadas com o VIH e com o objetivo de reduzir o risco de infeção. Está indicado para pessoas com risco acrescido de adquirir a infeção, nomeadamente entre parceiros em que um tem o vírus e outro não e em utilizadores de drogas injetáveis. A PrEP está atualmente disponível em Portugal nos hospitais, sendo a sua prescrição realizada por médicos especialistas, após avaliação do risco de aquisição de infeção por VIH e de outras infeções sexualmente transmissíveis, mediante o consentimento informado da pessoa.
A PrEP apenas protege as pessoas em relação à infeção por VIH e não confere proteção em relação a outras infeções de transmissão sexual, pelo que o uso correto do preservativo feminino ou masculino continua a ser uma medida robusta de prevenção e, como tal, não
pode ser descurada.
Já ouvi falar de profilaxia pós-exposição (PPE)?
A PPE consiste na toma de medicamentos antirretrovirais durante 28 dias seguidos e deve ser iniciada nas horas seguintes à exposição de risco (entre 24 horas a 48 horas). Tem como objetivo evitar a infeção através da toma de medicação antirretroviral.
Aplica-se a pessoas que estejam em risco de contrair VIH em contexto ocupacional (em contexto profissional, nomeadamente de saúde como é o caso de médicos, enfermeiros, assistentes operacionais ou outros técnicos de saúde) e não ocupacional (relações sexuais, ou por via parentérica).
A PPE é uma medida de emergência para prevenir a infecção por VIH, após uma possível exposição ao vírus.
Para aceder à PPE, deve dirigir-se ao serviço de urgências de um hospital que integra a rede de referenciação de tratamento da infeção por VIH. Um médico vai avaliar o possível risco de infeção e a pertinência ou necessidade de prescrever a PPE.
O Herpes genital, provocado essencialmente por um vírus denominado de Vírus herpes simplex tipo 2, não tem cura. O curso desta doença é constituído por períodos com sintomas, nomeadamente, prurido, dor, ardor e presença de pequenas feridas (múltiplas vesículas e úlceras) genitais , alternando com períodos sem qualquer tipo de sintomas. A
reativação dos sintomas pode acontecer em determinadas situações, como, ansiedade, stress, febre, imunossupressão, menstruação, queimaduras ou lesões traumáticas. A transmissão pode ser por contato de pele com pele com as lesões e durante o parto vaginal. A transmissão pode, ainda, ocorrer mesmo na ausência de sintomas.
O herpes deve ser tratado para reduzir a frequência e duração dos surtos, mas não tem cura.
As verrugas podem ser removidas, embora o vírus responsável pela doença possa permanecer na pele ou nas mucosas durante muito tempo.
A Hepatite B é uma inflamação do fígado que pode ser aguda e/ou crónica. Em cerca de 5% dos casos torna-se crónica, podendo provocar cirrose hepática e cancro do fígado.
A maioria das pessoas infectadas pelo vírus da hepatite B (VHB) não desenvolve qualquer sintoma na fase inicial/aguda da infecção, sobretudo quando ocorre durante a infância. No entanto, é importante salientar que a ausência de sintomas não é sinónimo de controlo da
infeção.
Este vírus tem a capacidade de sobreviver fora do organismo por mais de uma semana, mantendo-se ativo neste período. Pode ser encontrado no sangue e em algumas secreções corporais, nomeadamente, sémen, secreções vaginais e saliva.
As vias de transmissão mais frequentes são:
- Via sexual (forma mais comum de transmissão na Europa Ocidental)
- Via parentérica:
- partilha de agulhas/seringas contaminadas, tatuagens, acupuntura, piercings (se utilizado material não esterilizado)
- partilha de escova dos dentes, lâminas de barbear ou outros utensílios de uso pessoal que possam conter sangue contaminado
- transfusões sanguíneas e transplante de órgãos (vias raras de transmissão)
- Transmissão vertical (de mãe para filho), que acontece durante ou imediatamente após o parto. A cesariana não impede a transmissão do vírus.
A vacinação contra a hepatite B é o elemento chave da prevenção, são seguras e apresentam uma eficácia de 95% na prevenção da infeção.
Em caso de exposição ao VHB deve procurar aconselhamento médico imediato. Em indivíduos não vacinados ou que desconhecem se foram ou não vacinados, a administração de imunoglobulina endovenosa contra a hepatite B nas primeiras 12 horas após o contacto com o VHB pode prevenir o desenvolvimento de hepatite B crónica. Na mesma altura deve ser realizada a vacina contra a hepatite B.
A hepatite B aguda normalmente não necessita de tratamento específico. Na maioria dos casos, o sistema imunitário controla a infecção e consegue eliminar o vírus num período de cerca de 6 meses.
Na hepatite B crónica, a terapia antiviral está muitas vezes recomendada, atingindo-se o controlo do vírus na grande maioria dos casos. Embora não cure a infecção, tem o potencial de reduzir ou até mesmo reverter a lesão do fígado, prevenindo complicações a longo
prazo. No entanto, nem todos os doentes com hepatite B crónica necessitam de tratamento imediato, recomendando-se, nestes casos, vigilância a longo prazo. O transplante hepático pode ser a única alternativa de tratamento em indivíduos com hepatite B crónica e cirrose
hepática avançada ou cancro do fígado em estádios precoces.
O Vírus do Papiloma Humano (HPV) é responsável por um elevado número de infeções que, na maioria, das vezes não apresentam sintomas e são de regressão espontânea. Esta é uma das infeções de transmissão sexual mais comuns a nível mundial.
O vírus do papiloma humano engloba mais de 200 vírus. Os tipos de HPV transmitidos sexualmente enquadram-se em duas categorias:
- HPV de baixo risco: não causam cancro, mas podem causar verrugas nos órgãos genitais e ânus (os tipos 6 e 11 do HPV são os mais frequentes)
- HPV de alto risco: podem causar cancro (cerca de 12 tipos de HPV de alto risco foram identificados, de entre os quais, os tipos 16 e 18 do HPV)
A infeção por HPV pode originar vários tipos cancros como:
- cancro do colo do útero
- cancro vaginal
- cancro anal
- cancro da vulva
- cancro orofaríngeo
- cancro peniano
As infecções genitais por HPV são, geralmente, transmitidas por via sexual, através do contacto com a pele ou a mucosa. Menos frequentemente, o vírus é transmitido durante o parto.
A infeção por HPV é mais frequente nos mais jovens e nos primeiros anos após início da atividade sexual, sendo a infeção de transmissão sexual mais frequente nestas idades. Na população sexualmente ativa, 50 a 80% dos indivíduos adquirem infeção por HPV nalguma altura da sua vida, apesar de, na grande maioria dos casos, não haver evolução para doença sintomática.
A vacinação contra o HPV é o elemento chave da prevenção. Neste momento, o Plano Nacional de Vacinação inclui a vacinação contra 9 serotipos de HPV de todos os rapazes e raparigas com 10 anos de idade. Recomenda-se que todas as mulheres com atividade sexual ativa devem também ser vacinadas até aos 30-35 anos.
Assim, o diagnóstico e o tratamento nos estádios iniciais da infecção são fundamentais, para a cura sem complicações.
Quando se faz o diagnóstico de uma Infeção Sexualmente Transmissível é mandatório a exclusão de outras ISTs.
O que cada um pode fazer?
Certificar-se de que fez as vacinas disponíveis– a vacina contra o HPV e as vacinas das Hepatites.
Se tiveram parceiros sexuais anteriores devem fazer as análises de rastreio das IST`s antes de iniciar qualquer contacto sexual (sexo vaginal, anal ou oral).
Devem obter previamente preservativos e aprenderem a colocá-los e retirá-los corretamente.
O preservativo (masculino ou feminino) ou o dental dam (barra de latex), deve ser usado sempre que tiver sexo (vaginal, anal ou oral), do princípio ao fim do contacto.
Se tiver diagnóstico de IST, evite as relações sexuais enquanto estiver a fazer o tratamento, para não transmitir a infeção e não se infetar de novo.
Informe a(s) pessoa(s) com as quais tive sexo de que podem estar infetadas e que devem ir ao médico e fazer análises, mesmo que se sintam saudáveis e não tenham sintomas.
A prática de sexo mais seguro é a melhor maneira de prevenir a infeção.